A ascensão do Senhor: Glória que nos impulsiona à missão

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)

 

 

A solenidade da Ascensão do Senhor, celebrada quarenta dias após a Páscoa, é um dos eventos centrais da fé cristã. Ela nos recorda o momento em que Jesus, após Sua ressurreição, subiu ao céu à vista dos apóstolos, para sentar-Se à direita do Pai (cf. Mc 16,19; At 1,9-11). Esse mistério glorioso não marca uma despedida, mas inaugura uma nova presença de Cristo junto ao seu povo e o envio dos discípulos à missão. 

Ao longo de seu ministério, Jesus anunciou que voltaria ao Pai. A Ascensão é, portanto, o cumprimento dessa promessa. Não se trata de um abandono, mas de uma elevação gloriosa de Cristo, que venceu a morte e agora reina com o Pai. A carta aos Hebreus nos diz: “Entrou no próprio céu, para agora se apresentar diante de Deus em nosso favor” (Hb 9,24). 

Jesus ascende levando consigo a natureza humana, que assumiu no mistério da Encarnação. Isso significa que, n’Ele, a humanidade foi elevada à glória divina. A Ascensão, portanto, é também esperança para nós: onde Ele está, nós também somos chamados a estar (cf. Jo 14,3). 

Com a Ascensão, Jesus não desaparece. Ele permanece presente de modo mais pleno e universal. Já não limitado por tempo ou espaço, Cristo agora está presente na Palavra, na Eucaristia, na comunidade reunida em Seu nome e, sobretudo, na missão da Igreja. 

É significativo que, antes de subir aos céus, Ele diga: “Estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Sua ausência visível é substituída por uma presença espiritual contínua e eficaz. 

A Ascensão é também o início da missão apostólica. Jesus confia aos discípulos — e a nós — a tarefa de evangelizar: “Ide, portanto, e fazei discípulos todos os povos” (Mt 28,19). O olhar dos discípulos, que se eleva para o céu, é corrigido pelos anjos: “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu?” (At 1,11). É preciso agora descer do monte e agir. 

A missão é o modo de viver a presença de Jesus. Evangelizar, servir os irmãos, ser testemunha da ressurreição no mundo: eis o caminho deixado por Cristo antes de subir ao céu. Ele nos promete o Espírito Santo para nos fortalecer e nos acompanhar. 

Por fim, a Ascensão aponta para a nossa meta: a vida eterna. Cristo, ao subir ao céu, abre as portas para todos nós. Como diz São Paulo: “A nossa pátria está nos céus” (Fl 3,20). Viver a fé é viver com os olhos fixos no céu, mas os pés firmes na terra, na construção do Reino de Deus. 

Na liturgia da Ascensão, somos convidados a renovar nossa fé no Cristo glorificado, a acolher o dom da missão e a esperar com alegria o cumprimento da promessa: “Este Jesus voltará do mesmo modo como o vistes partir” (At 1,11). 

Celebrar a Ascensão é professar que Cristo reina, que a Igreja é enviada e que a humanidade está chamada à glória eterna. Com os olhos voltados para o céu e o coração aberto à missão, caminhamos fortalecidos pela presença invisível, porém real, do Senhor Ressuscitado. 

 

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